terça-feira, 19 de abril de 2011

Rubem Alves!

Postagem do texto, escrito pelo Prof. Sandro, enviado para a análise da coletânea de homenagens aos 40 anos da obra de Rubem Alves.
Eucaliptos e Jequitibás
Nos anos 90 tive a oportunidade de ler um livro, que mudou a minha concepção sobre educação: Conversas com quem gosta de ensinar de Rubem Alves – uma literatura extremamente pedagógica, mas com a convicção de que existe uma grande diferença entre professores e educadores. Rubem metaforizava suas ideias, comparando estes dois seres, parecidos, mas completamente distintos, com eucaliptos e jequitibás, afirmava “professores são eucaliptos, porque podem ser plantados, alinhados, crescem parecidos, seguem na mesma direção e apresentam o mesmo fim, suas raízes são curtas, breves, não se estendem muito, é muito fácil de encontrá-los; já os educadores são os jequitibás, árvores frondosas, que não podem ser plantadas e nem mesmo alinhadas semelhantemente, elas possuem vida própria, e possuem vida longa, suas raízes são, também, longas, profundas, impregnam-se na terra, consolidam sua existência, não são encontrados com facilidade, entre tantas outras árvores destacam-se pela imponência e pela convicção que a terra que o sustenta é capaz de lhe dar maiores possibilidades de crescimento.”
Os anos passaram e parece que a leitura de 20 anos atrás, ainda é contemporânea, e os mesmos modelos repetem-se. Hoje, após vários anos de trabalho, posso ver onde estão estas espécies da botânica pedagógica. O paradigma está mais vivo do que nunca, vivemos numa área territorial, marcada pelas plantações de eucaliptos, que se tornaram escravos de suas próprias desventuras, compõem campos delimitados e comuns, o sonho tem sido podado dia após dia, a recompensa – salário – fez com que até mesmos os eucaliptos que poderiam ser frondosos, também mirrassem. O sonho dos professores eucaliptos tornaram-se efêmeros, sem cores, até parece imagens surrealistas que mesclam o inimaginável com aquilo que se pode fazer e no entanto não se faz. Os jequitibás, onde estarão? Estão perdendo o terreno para as florestas cultiváveis, resultantes de laboratórios experimentais. Os jequitibás estão sem território para crescer e  tornar-se árvore e abrigar à sua sombra aqueles  que estão em busca de conhecimento. O ensinar está tornando-se pejorativo, o encanto está quase perdido – ainda bem que quase. O que era detestável no passado, hoje é o protótipo de trabalho. Ser competente está tornando-se inviável; o desencanto, o cansaço, o desânimo, a pouca vontade, o quase nada(...), quase nada está em voga. Eucaliptos ganham pouco, mas muito pelo que fazem. Ensinar é negociar o conhecimento é encantar-se ainda que não haja esperança.
Precisamos urgentemente de jequitibás, que cresçam com vontade que suplantem as dinastias de eucaliptos, que ressurgem como praga no meio educacional; precisamos de jequitibás que acreditam que neste terreno há nutrientes para desenvolver suas raízes; precisamos que os jequitibás suplantem, urgentemente, os eucaliptos, escravos do livro ponto, dos turnos exigidos, das mediocridades científicas, das baboseiras pedagógicas aprendidas à distância, da pouca leitura, da pouca eficiência, escravo de rotinas diárias. Onde estão os jequitibás, que miram na escola seu objetivo de sucesso, que fazem de seu ofício uma entrega, uma vocação, um elo entre o encanto e o sublime, jequitibás de folhas lisas, verdes pungentes, caule imponente e raízes que perfuram as camadas do solo e que não é qualquer vento que pode tombá-lo? Precisamos fazer renascer uma escola com terreno apto para receber as sementes de jequitibás, e não mais um lugar deteriorado de terra pobre que possibilita somente o crescimento, em fila indiana, de eucaliptos, que até apresentam um aroma singular, mas serve mesmo é para outras funções, que não a de sombrear e dar abrigo àqueles que sonham com o conhecimento. Espero que este desabafo não seja tarde, e que ainda exista no meio docente, pessoas que reflitam sobre seu papel e sobre sua função.
Enquanto não houver esta consciência, naufragaremos numa instituição precária, violenta e sem função alguma na sociedade, que nasceu da inércia e da pouca vontade de transformação.
Os eucaliptos gritam por direitos e querem receber nutrientes para fortificarem-se, pois sabem que seus dias estão contados e é bem provável que seu destino seja o de ser cortado para integrar uma bancada numa escola ou evoluir para ser um papel, onde alguém escreverá: Há diferença entre eucaliptos e jequitibás. Uma grande verdade dita por Rubem Alves.
Sandro Rosa – 17/04/11

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